Depois de uma manhã de aula no Colégio Municipal Benjamin Jacob, próximo á favela Vila Acaba Mundo, localizada no Bairro Sion, região sul de Belo Horizonte, Kattielly Moreira, 9 anos, não volta para casa. Ela sabe que um almoço caprichado a espera na Casa de Apoio Bem Me Quer, onde a menina passa suas tardes de segunda á quinta, desde o começo do ano. O dia preferido da pequena Kattyelly é quarta feira, pois é quando a menina tem sua tão esperada aula de ballet, ferecida pela professora Marise Campos. Lá, além das aulas de dança, Kattyelly aprende bordado, culinária, tem atendimento psicoterápico individual, momentos de oração, aula de computação, desenvolvimento das lições de casa e aprendizados básicos como higiene pessoa. “Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira”, conta a menina, com alegria.
A Bem me Quer é um projeto que acontece há quinze anos e conta com a ajuda de cerca de cem associados, que fazem doações mensais para manter as diversas atividades oferecidas para cerca de 40 meninas de sete a 14 anos, todas moradoras da Vila Acaba Mundo, em dois horarios distintos, pela manhã e à tarde. Pérola, diretora do projeto, explica que a idéia veio junto com a vontade de retribuir a sociedade tudo aquilo que teve em sua vida”Por isso, sempre quis fazer algo destinado a garotas. É um trabalho que tem como única meta a felicidade delas” conta.
Para a fundadora, a ideologia que todos da casa devem seguir “vem d eum filosofo muito antigoe diz que nossa felicidade é buscar tudo que é bom, tudo que é bonito e tudo que é verdadeiro”. Para isso, o foco do projeto é a saúde e a educação das meninas, que contam com a ajuda de quatro educadoraspara as atividades diárias.
A condição para quem quer participar é estar matriculada em alguma escola e com frequencia regular. Para ser voluntário, basta assinar um termo de compromisso e ter boa vontade.
Kattyelly se diverte nos momentos de brincadeira, mas demonstra reconhecer a importância das outras atividades. “ Aqui a gente aprende muito sobre o nosso corpo, sobre cozinhar, a gente aprende até comidas de outros países. E bordar também eu gosto mas nao só para bordar aqui. Eu aprendo aqui e bordo em casa com a minha mãe também”, explica a menina. Todos os dias, antes de voltar para casa, o grupo de garotas toma banho e escova os dentes, para aprenderem corretamente como se cuida do próprio corpo. Um dos momentos de descontração mais esperado pelas meninas é a roda de canto, que acontece toda quinta-feira, na qual todas podem soltar a voz e cantar com a ajuda de um microfone.
Pérola explica que passa por algumas dificuldades no dia a dia, no que diz respeito ao interesse pelos estudos e pelo futuro. “quando as meninas são menores é mais fácil, por elas nos escutam, mas em contraponto elas não estão tão preocupadas com o futuro. As adolecentes são difíceis. Eu gostaria que houvesse mais interesse, que elas absorvessemmais o que ensinamos. Isso tudo é um trabalho lento”, reconhece a fundadora. Generosa Costa, uma das educadoras, concorda com Pérola. “Mas elas, apesar de todas serem muito diferentes, são super carinhosas”, completa.
Apesar das reuniões com as mães terem a presença de puquissimas delas, Pérola insiste em compartilhar cada problema e cada conquista com elas. Sempre quando percebe alguma dificuldade maior em uma das meninas, procura a ajuda de psicologos e logo entra em contato com os pais. “É triste porque as mães quem menos vêm são das meninas que mais precisam”, conclui.